Estava com sono. Deitei. Dormi. Acordei com a alegria de um escravo alforriado.
Isso tudo porque sonhei com as peles que o vento levou de mim. Sonhei com meus amigos dos tempos de colegial. Acordar com eles na cabeça me deu uma alegria dantesca, uma vontade de começar o dia pensando neles o tempo todo, a vida toda, a existência do poeta. A alegria que vem daquelas escadas, que serviram de palco pra tantas descobertas, tantos planos, tantos olhares descobrindo o parto do futuro.E o instante pariu, o futuro nasceu com vozes de veludo. As pessoas cresceram, os cabelos mudaram, os olhares são outros. É claro que nem todo mundo ali me fazia bem, alguns até me fizeram, mas hoje já nao fazem mais : nessas horas é bom esquecer. Mas até de quem não me traz boas lembranças, eu sinto saudade, e dá vontade de abraçar esse ser na intenção desesperada de nao perder o fio, o fio que nos liga à fase da construção, da descoberta, do infinito libertador que causou vida, tanta vida, tanto sonho, tanto medo que aquilo tudo acabasse.
Lembro que eu morria de medo do minuto seguinte. Tinha medo de viver o que vivo hoje. Em vão, assim como este texto, em vão. Só não é em vão que dedico os sorrisos de início deste dia a eles, a todos. Às escadas também, claro, elas ouviram tudo. Tempo bom aquele, tempo lindo este.
Paz pra todos nós, claro, ninguém é de ferro. Saudade sempre, até os meus passos se cansarem de mim e partirem sozinhos pro proximo instante, ele virá.

E tenho dito,

Carvão.